Currículos e saberes discentes





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Há tempos, um grande debate vem frequentando a educação escolar: trata-se da construção do currículo ou currículos. Falamos currículos, porque é comum lidarmos com cinco currículos diferentes na prática docente:

1.       O currículo oficial;

2.       O currículo institucional;

3.       O currículo do professor;

4.       O currículo oculto;

5.       O currículo do aluno.

 

O currículo oficial, sabemos nós, é aquele que está contido nas diretrizes, nos referenciais e nos parâmetros curriculares. Orientam e procuram dar forma ao trabalho da escola, no que tange ao conteúdo e ao que deve ser ensinado baseado nos contextos sociais, visando promover no estudante a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente. O currículo institucional é aquele que advém da adaptação que a escola faz do currículo oficial. Isto porque há distintas realidades educacionais que forjam diferentes concepções pedagógicas, que são determinadas em razão dos recursos disponíveis na escola, corpo docente, estrutura física etc. E dentro dessa realidade educacional, transformada pelo cotidiano escolar, há a realidade do professor, que é transformada pelo dia a dia em sala de aula; na manifestação de suas inquietações, enfrentamentos, dificuldades, sensibilidade e tantos outros aspectos subjetivos e objetivos, que se sobrepõem à sua prática pedagógica. Já o currículo oculto (uma forma de violência simbólica), produz formas dissimuladas de agir que se incorporam à cultura acadêmica, forjando comportamentos e estabelecendo silenciosamente o que se deve ensinar, como ensinar e como aprender. Na verdade, é o que se ensina na escola subliminarmente.   

Porém, percebe-se que, na contemporaneidade, é consequente a necessidade de modificações nas relações entre a escola e o conhecimento, entre o professor e o aluno e entre a educação e o mundo contemporâneo. Além da conexão com as transformações atuais, é demanda da contemporaneidade a compreensão das diferentes dinâmicas que ocorrem no processo de ensino e aprendizagem, para traçar estratégias pedagógicas adequadas à realidade discente. Daí surge o currículo do aluno, que vem em razão das suas necessidades, interesses e, na sociedade atual, como consequência da sua relação com a tecnologia, por meio da internet, videogame, computadores e celulares, dentre outras mídias. São tecnologias da inteligência, nas quais, o usuário manipula com proficiência o conteúdo, propiciando novas ideias. Elas renovam as nossas relações com a imagem, com a escrita, com a língua, com o conhecimento e com o outro.

Forma-se um novo espaço de produção cultural, interferindo nos conceitos de ensino e aprendizagem. Esse espaço permite ao aluno a construção da sua aprendizagem. Ele aprende nas trocas sociais do mundo tecnológico, ao mesmo tempo em que se torna o seu principal interlocutor na aquisição do saber. Essa perspectiva colaborativa volta-se para a sala de aula. Estimula novos sentidos, promove outras leituras epistemológicas, demanda diferentes articulações cognitivas. E, o mais importante, enfatiza que todos são capazes de aprender e de ensinar, principalmente ensinar a professores conectados com seu tempo.  

Basta observarmos como os nativos digitais aprendem. O acesso ao conhecimento ocorre paralelamente. Os assuntos nunca estão isolados, mas sempre ligados a temas correlatos. Veem TV, ouvem música, conversam no Messenger, trocam recados nas redes sociais, enquanto pesquisam na Wikipédia o trabalho da escola. Suas mentes aprendem de forma peculiar, sem começo, meio e fim. Eles aprendem por tentativa e erro. Não se interessam em ler manuais tecnológicos. Quando têm dúvida, perguntam ao Google. Alguém já teve a mesma dúvida e descobriu a resposta e a postou na web. “Como fritar um ovo no asfalto?” A resposta está lá. Então, perguntamos: diante de um computador ou videogame, o que acontece à mente de uma criança de seis anos - que está na fase pré-operatória, sem a capacidade abstrativa totalmente desenvolvida? E o que acontece à mente de um adulto de cinquenta anos - que se encontra no estágio das operações formais, com plenas possibilidades abstrativas? O mais das vezes, os papéis se invertem: o adulto passa para o estágio pré-operatório e a criança para as operações formais.  

Por que as pessoas mais velhas do mundo analógico possuem tanta dificuldade de aprender as novas tecnologias digitais? E por que crianças e adolescentes aprendem tão facilmente e as ensinam? A resposta está no medo e no lúdico. Os mais antigos aprenderam debaixo do aguilhão do medo. De errar, de ser corrigido e punido, de passar vexame. Levaram essas impressões para o mundo social e profissional.  As novas gerações aprendem brincando. Novas tecnologias representam novas maneiras de brincar. Isto é um sinal para nós, educadores, quando refletimos a respeito de metodologias de ensino: o medo emburra, o desejo elucida. É assim no currículo do aluno.





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Marcos Machado

15/06/2012 - 00:00:00

Excelente reflexão, professor. Já deixei sei site como favorito. Abraço