A escola é uma história de afetividade





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A velocidade do mundo fragmentou o homem moderno. Uma mudança estrutural está transformando as sociedades, mudando as nossas identidades, internalizando nos indivíduos significados e valores externos, que expressam as características deste tempo e os seus objetivos. O sujeito pós-moderno torna-se maleável, capitulado pela celeridade dos acontecimentos, pelas necessidades e manifestações, esquecendo dos rudimentos que tornaram elementares o desejo e o amor à vida.

Desta forma, fica-nos a impressão de que estamos sempre mais longe de nós mesmos, de nossa família, da nossa fraternização. Parece que quando desejamos ser mais humanos, afáveis, amorosos e verdadeiros, estamos seguindo contra as correntes das águas, e isto é refletido na educação. Como cada educando tem vivenciado suas emoções? As suas dimensões afetivas estão ligadas a quê? Muitas crianças e adolescentes não aprendem e recebem conceitos de menos inteligentes, quando, na verdade, estão afetivamente carentes. Afinal, nossa inteligência não só agrega aspectos cognitivos, mas emocionais também.

Mas quando educadores, pesquisadores, cientistas, mestres, doutores, educandos e professores questionam o modelo escolar que perdurou durante anos e iniciam mudanças profundas nas suas relações com o aprender e com o ensinar, as demandas deste século tornam-se uma nêmese, um movimento contrário e fatídico, com pressões sobre a família, o aprendente, o professor e, por conseguinte, a escola.

Ouvimos uma história de certo cidadão que permitiu à sua vida o tédio e a tibieza. Passou os anos de sua juventude e início de sua maturidade em dissoluções, enganos e fracassos, por desejar antes o ócio ao ofício. Quando foi acometido por um acidente, que o levou quase a morte, ficou meses imobilizado em uma cama refletindo sobre seus anos e como eles haviam passado como um filme, no qual cochilara e perdera as melhores cenas. Desejando agora o ofício ao ócio, recuperou-se daquele acidente e tentou de todas as formas resgatar o tempo que havia deixado de viver, mas as coisas já haviam acontecido e só na sua lembrança poderia fazê-las diferentes. Ainda assim, persistiu. Mas ao cabo de algum tempo, percebeu que as seqüelas do acidente, que o havia deixado um longo período paralisado, impunham-lhe demasiado esforço para superar suas adversidades. No seu ocaso, havia-lhe nascido um vigor de alma que jamais tivera, entretanto, tudo no seu corpo conspirava contra sua disposição, desejo e afeto. O mundo externo opunha-se a ele. Seus sonhos, outrora eclipsados pelo tédio e bebedeiras que não existiam mais, eram agora confrontados por tudo ao redor: o calor, o frio, as dores, o medo, as manhãs, as noites, a solidão, o trabalho. Pesava ainda sobre tudo isso, a agressividade do tempo. Ele não havia assumido a direção de sua vida, e agora ela estava sugestionada pelo mundo exterior, aprisionada aos propósitos alheios aos seus.

Durante anos a escola permaneceu engessada numa cama, com tudo ao redor ultrapassando-a numa velocidade díspar. Ela ajudou a construir o desenvolvimento social, tecnológico e humano, sem, entretanto, conseguir acompanhá-lo. Exigirá de nós, educadores, um esforço bem maior para atualizá-la às mudanças que reordenaram o tempo e o espaço em que vivemos, não somente nos aspectos materiais e científicos, mas afetivos também, em razão das sensíveis alterações nos núcleos familiares e sociais.

Entretanto, Perrenoud ilustra que os médicos cruzam os braços e se resignam a acompanhar uma doença incurável, mas antes de chegar a esse ponto, via de regra, eles “fizeram de tudo”. Não se pode dizer o mesmo da escola, diz ele, cuja própria organização impede que se tente tudo.

Na educação, a escola é quem melhor pode promover a vida, de vivência plena, experimentação sem desperdício, expressando o valor da coletividade na individualidade de cada um, participando do cotidiano e produzindo conhecimentos por meio do afeto.

A escola é uma árvore. A árvore é alimentada e alimenta. Abriga e ensina aos passantes à sua sombra. Sustenta os que se aconchegam e fazem seus ninhos, e como pássaros, preparam ali uma nova geração para voar.





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