Paradigma e história





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Quem gosta de História, Letras, Matemática ou qualquer outra disciplina sabe dizer se há alguma relação entre Copérnico, Galileu, Descartes, Newton e a maneira de ensinar dos professores em sala de aula? É claro que os alunos aprendem sobre esses homens na escola. Mas não é esta relação que falamos. A relação que falamos está muito além do estudo histórico da vida desses cientistas. A relação que falamos está na forma de conceber a ciência, na forma de estudar as disciplinas, na forma de construir um currículo escolar. Na maneira de olhar a escola, o aluno e o professor. Essa maneira de olhar está sujeita a um paradigma. Paradigma é um conjunto de formas idênticas que serve como derivação ou modelo para um sistema. Um modelo padrão.

Boaventura de Souza Santos, sociólogo e professor, nascido em Coimbra, escreve que a ciência moderna, saída da revolução científica do século XVI e todas as evoluções provenientes da Renascença e da imprensa de Gutenberg, deixou os cálculos esotéricos (diz-se do ensino na Grécia antiga – Teorias Aristotélicas) para se transformar no fermento de uma transformação técnica e social sem precedentes na história da humanidade. Todavia, em razão dessas mudanças, Edgar Morin, sociólogo, filósofo e historiador, nascido em Paris, afirma que vivemos sob o império dos princípios de “disjunção, de redução” e de “abstração”, cujo conjunto chama de “paradigma de simplificação”. Descartes formulou esse paradigma ao separar o sujeito pensante e a coisa entendida: “Penso, logo existo”. Este paradigma controla aventura do pensamento ocidental desde o século XVII. Copérnico, Galileu, Descartes e Newton, com o racionalismo, romperem com o pensamento esotérico e contribuíram de forma profunda para o desenvolvimento científico da humanidade. Entretanto, as ciências ditas naturais (Biologia, Física, Astronomia, Química) passaram a ser vistas como superiores às ciências humanas (sociais). Desta forma, criou-se uma hierarquização das ciências e se estabeleceu uma dicotomia na maneira de ensinar até hoje. Por isso, vemos professores preocupados com a cientificidade da sua disciplina, mas esquecendo a humanidade do seu ofício. Para Boaventura, essa maneira de pensar faz do cientista “um ignorante especializado” e do cidadão comum “um ignorante generalizado”.

Quando esses pensadores falam isso, eles na verdade estão preocupados com a educação e com a necessidade de um pensamento emergente. Buscam um novo paradigma que dê conta da complexidade da escola nos dias atuais, pois olham o homem como um ser integral, na sua estrutura biológica, afetiva e social. Observam e enfatizam que as partes compõem o todo e todo está em cada uma das partes. Percebem que não podemos educar sem atentarmos para o aluno na sua individualidade e no seu papel social e para a necessidade da conquista da sua autonomia, pois, diante das evoluções, a escola tornou-se anacrônica.

Dentre grandes e importantes acontecimentos que afiguraram o mundo nos últimos dois séculos, por exemplo, o homem inventou o telefone e a lâmpada elétrica. Santos Dumont realizou o histórico vôo sobre Paris. Einstein desenvolveu sua teoria da relatividade que revolucionou a Física. A indústria naval construiu um gigantesco navio dizendo que era inexpugnável a naufrágios, “nem Deus pode afundá-lo”, diziam, e todos já sabem o final da história. A Rússia apresentou ao mundo a sua revolução em 1917, construiu um muro em 1961, que dividiu a Europa em duas até 1989, quando foi derrubado. O mundo superou duas grandes guerras mundiais. Os EUA estabeleceram-se como grande nação econômica e, mais recentemente, a China também despontou no cenário mundial. O homem inventou a TV, curou doenças – antes incuráveis – descobriu vacinas, viajou até ao espaço, à Lua, ao interior dos oceanos, do corpo humano e concebeu o mundo virtual, tecnológico da internet, reorganizando a sociedade, a família e o trabalho, mas, entretanto, as mudanças que visavam dar mais qualidade a nossa vida descompassaram-se da evolução da escola, que tendeu a ser uma repetição dos paradigmas estabelecidos.

Não que a escola não fosse capaz de amoldar-se às mudanças, mas tornou-se pungente o fato de que, em certo modo, ela sempre foi uma reprodução do modelo da sociedade dominante, uma reprodução do poder que veio para contrapor-se às desigualdades, mas que as legitimou; que veio como uma alternativa à dominação vigente, mas que a reproduziu, criando novas vias de alternativas, mas que caminharam pelas antigas, reproduzindo o mesmo amálgama que pretendia substituir. Isto porque não se fundamentou naquilo que é essencial à educação, como recurso do homem à superação de si mesmo e dos seus limites em busca de igualdade: o amor. Como diz Freire, “não há educação sem amor, nada se pode temer da educação quando se ama”.

 

 

 

 





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