Educação é como música
Imaginemos uma orquestra na execução de uma obra musical. Quando a ouvimos de longe, sentimos sua sincronia, mas alguns sons não são tão perceptíveis. Aos poucos, quando nos aproximamos, conseguimos ouvir com maior precisão e clareza a harmonia dos acordes. Todavia, se detalharmos nosso olhar e nossos ouvidos em cada movimento particular dos instrumentos perceberemos que cada um parece seguir caminhos dissimilares, compondo uma música própria, mas estritamente dentro do tom, do compasso, da métrica, da essência afetiva da partitura. Os percursos melódicos e fugidios do violino seguem os recursos de sua peculiaridade, distanciando-se e opondo-se ao som circunspecto, suplicante, quase oracular, do violoncelo. Os metais – trompete, trombone, trompa e tuba – parecem querer dominar com alarido e clangor os espaços, mas são contidos pela manifestação pontual e criativa do tímpano, da caixa, do bumbo e dos pratos que enriquecem e dinamizam o compasso da música, que expressa a condição de que ninguém detém em si mesmo o domínio desse saber, mas todos o compartilham, fazendo parte do processo criativo da execução; interagindo-se, comunicando-se.
Se por analogia podemos compreender como ocorrem os processos sociais e afetivos da aprendizagem, onde estaria, em uma orquestra, a figura do professor? A julgar pelos ensinos de Montessori, que outorgam ao aluno a condição de autor do seu aprendizado, e pelas palavras de Freire – nas quais, o professor não ocupa isoladamente o centro da educação, pois educar não é um ato solitário – a figura docente jamais estaria na pessoa do maestro. E onde estaria? Creio que na pulsação da música… Talvez no bumbo, que faz pungir o tema, que permite a dinâmica, que mantém o ritmo, o tempo, no qual, cada um expressa com segurança e independência a sua individualidade e percepção. Mas que figura representaria, então, o maestro? Decerto, o sonho e o desejo de cada um. É para eles que todos olham.
Transcrito do livro ´Autismo e inclusão´
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