Entrevista ao jornal A Tribuna

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Afetividade entre professor e aluno – Eugênio Cunha

Autor: Equipe JEC
Professor: uma figura importante para o aluno. Da relação com o aluno podem surgir afetos e conflitos que influem na aprendizagem. Na complexidade atual da sociedade, esse personagem continua sendo idealizado pelos estudantes. O professor e psicopedagogo, Eugênio Cunha, autor dos livros “Afetividade na prática pedagógica”, “Afeto e aprendizagem” e “Autismo e inclusão”, publicados pela WAK Editora, respondeu a pedido do JEC algumas perguntas sobre o assunto.
Os professores de hoje vivem uma “crise existencial”? Eles se sentem desvalorizados? Como mudar essa situação?
Não posso afirmar que há crise existencial, mas, decerto, há uma extrema desvalorização do professor, tanto no aspecto humano quanto no profissional. Os salários não são bons, ainda que o professor estude e se especialize. Existe, também, a fragmentação da família, dos valores e das relações sociais, que interferem no processo de ensino e aprendizagem. Para mudar isso, é necessário um comprometimento das instituições de ensino e do Estado preparando o professor e valorizando seu papel na sociedade.
Quais características o professor do século XXI deveria ter?
O professor precisa ser um interlocutor do seu tempo, um mediador dos processos de aprendizagem, que foram rearticulados em razão das novas tecnologias de comunicação. O aluno de hoje, certamente, não pensa, não aprende da mesma forma que as gerações anteriores. Além disso, o professor precisa amar o que faz.

O que o aluno de hoje idealiza no professor?
Idealiza um modelo comportamental. Isto acontece da educação infantil à pós-graduação. Quando o professor ama seu trabalho ele se torna um modelo, um ideal. Qual é a situação das salas de aula brasileiras? Como o professor pode conquistar os alunos atualmente? Com raríssimas exceções, a situação das salas é muito ruim, principalmente nas escolas públicas, onde se encontra a grande massa de estudantes. Em razão disso, o professor precisará do afeto, criando um vínculo na relação com seu aluno, despertando sua autoestima e fazendo com que o conteúdo a ser estudado tenha sentido para ele. Este é o caminho para conquistá-lo.
A dinâmica da sociedade contemporânea influi na sala de aula? Como aproveitar a pluralidade de informações e atrair os alunos?
Na sociedade contemporânea, o conhecimento não está somente na escola. Não é surpresa quando encontramos alunos bem informados, conhecedores e conectados com o mundo. A internet modificou as nossas relações com o saber. Agora, vivemos num mundo de excessos de opções e de extrema agilidade na aquisição da informação. Todavia, dar qualidade à informação ou possibilitar que o aluno tenha condições de separar o precioso do dispensável é papel da escola. O professor precisa estimular a autonomia de pensamento, o senso crítico, a criatividade, a qualidade e a formação humana de seus alunos.
As novas tecnologias de comunicação auxiliam na relação entre professor e aluno?
As novas tecnologias de comunicação resultam do conhecimento que se iniciou na escola. O professor precisa vê-la como instrumento de apoio e não como adversária. Não há outra maneira de lidar com elas, pois se trata de um movimento irreversível. Diante disso, um professor atualizado com seu tempo poderá se inserir nas articulações que elas provocam. Ainda que não seja possível competir com as tecnologias no universo escolar de salas de aula precárias, o professor pode ser interativo e colaborativo, para propiciar um ambiente criativo. As tecnologias permitem que crianças e adolescentes sejam mediadores do próprio conhecimento. Semear no educando o desejo de aprender poderá ser um caminho, pois aprendemos melhor quando amamos.