Afeto e dificuldades de aprendizagem
A escola vem discutindo incessantemente as dificuldades de aprendizagem. Algumas vezes, torna-se tão ressonante tal discussão, que supera a percepção de que existem nas dificuldades de aprendizagem as possibilidades de aprendizagem.
Em sala de aula, é possível aferir que as dificuldades de aprendizagem são um solo fértil para disseminar as possibilidades por meio do afeto. Havia um costume no Egito antigo que pode ilustrar esta avaliação. O Egito foi um berço da civilização. É provável que este fato ocorresse na época em que os hebreus estavam por lá, pois ele está registrado no livro de Eclesiastes. Ainda hoje o Egito é um mistério. As pirâmides escondem muitos conhecimentos enigmáticos, altos cálculos matemáticos e geométricos. Logo no início da sua civilização, os egípcios desenvolveram os hieróglifos, com mais de seiscentos símbolos que representavam figuras. Posteriormente, o livro texto, feito de papiro, começou a ser utilizado para ajudar a unificar o conhecimento. O sábio era quem conhecia a tradição contida nos livros, que eram instrumentos de instrução. Os egípcios debatiam alguns temas até hoje pertinentes, das relações do professor e do aluno com a educação.
O Faraó era uma figura absoluta. O rio Nilo, com mais de seis mil quilômetros de extensão, irrigava os vales, tornando-os férteis e propícios para a agricultura. Porém, o Nilo também transbordava e invadia as terras, tomando tudo ao redor. Mas durante esse período, impróprio para plantar e colher, o povo jogava sobre as águas suas sementes. Parecia que os grãos ficariam soterrados e esquecidos, mas no devido tempo surgia a colheita. “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás”, diziam.
O aluno que chega à escola com o estigma das dificuldades de aprendizagem parece, a princípio, um solo inoportuno para o aprendizado. Todas as tentativas anteriores fracassaram. O rótulo que o acompanha o toma e lhe dá sobrenome. As nossas iniciativas parecem tímidas demais diante da grandeza dos problemas. A confiança que deveríamos passar para ele esvai-se percebidamente pelo nosso olhar, ora incrédulo, ora crítico. Contudo, ninguém nasce com a gênese do insucesso. Esse aluno, qualquer aluno, ou qualquer ser, quando estiver em uma sala de aula ou em qualquer outro lugar, estará impelindo os processos químicos do corpo, a interação biológica entre os órgãos, as ininterruptas correntes elétricas que produzem as sinapses no cérebro, que descerram aprendizados.
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